Ricardo Passos participa com duas obras na exposição PONTES LUSO-GALAICAS, promovida pela Galeria Vieira Portuense e a realizar no Clube dos Fenianos Portuenses. Esta mostra de arte, que comemora os 900 anos do nascimento de D. Afonso Henriques, e que conta com artistas plásticos portugueses e galegos, pretende ser um elo de união de dois povos que, ao longo de 9 séculos nunca deixaram de ser cúmplices, apesar das fronteiras que os poderes dominantes tecem. Uma exposição a inaugurar a 18 de Julho de 2009, pelas 18:00 horas. Rua dos Finianos, 19 - Porto (ao lado da Câmara Municipal do Porto)
Artista plástico cosmopolita e de assumida contemporaneidade, Ricardo Passos reconhece Alter do Chão como solo fecundo onde se encontram enraizadas as relações familiares, as memórias de infância e os afectos genuínos. A sinceridade com que revive as cores, os aromas, os sons deste “seu cantinho alentejano” atesta do indisfarçável carinho que nutre por esta vila o que, de per si, bastaria para que as portas do Castelo de Alter do Chão se abrissem para acolher a sua obra. Vivendo há tantos anos na cidade, consegue ainda reviver a sua experiência nesta vila de um modo tão contagiante, que torna impossível, àqueles que a não conhecem, resistir ao desafio de “experienciar Alter do Chão”. (...) Por esta via se alcança uma simbiose entre espaço e obra tão curiosa quanto difícil de alcançar e, por isso mesmo, merecedora de um olhar particularmente cuidado que proporcionará, certamente, uma experiência irrepetível.
Mafalda Sadio (Vice-Presidente da Câmara Municipal de Alter do Chão)
Com o Rei na Barriga - XXVII Da série "Com o Rei na Barriga" acrílico s/ tela com fragmentos de folha de prata 100 x 100 cms 2009
DE COR CINZENTA
Desliza a coroa Esboroa-se a mente Não sabe o que sente De tanto sentir Sentir a tristeza Do fraco poder Sentir que não sente As mágoas da gente
Deslizam as coroas Na colcha de seda Estira-se o corpo Na manta cinzenta Desfaz-se o sorriso De cor bacilenta
Também os meninos Na lata nascidos Têm cor bacilenta E dedos cinzentos Da terra que pegam Da água sem brilho da água com cor
De cor bacilenta E vestes cinzentas Se vestem idosos Que sentem a dor A dor de não terem Os filhos presentes Sentem os ausentes Nas ruas dormentes
Três mundos num mundo três de cor cinzenta Com brilho e sem brilho E cor bacilenta
Se todos unidos Mostrarmos tais mundos Com traços profundos Podem surgir normas De todas as formas E tudo mudar
de Célia Alves Artista Plástica
Quem não tem olhos, vê com os óculos Da série "Provérbios Portugueses" acrílico sobre tela 100 x 170 cms (díptico) 2009
A coerência visual é tão importante como a coerência conceptual no trabalho de Ricardo Passos. Nesta exposição, vemos duas das suas séries e percebemos a ironia, o humor e a crítica social que caracterizam todo o seu trabalho. A série “Com o Rei na Barriga” fala-nos de responsabilidades, de pressão social, de deveres, de ansiedade e até de alguma hipocrisia. Tudo isto dito com ironia, com um sorriso no olhar e com questões que Passos nos faz e que, na nossa sociedade contemporânea, são actuais e pertinentes. Portugal tem uma longa tradição de ditos e provérbios populares. Passos não é indiferente a esta tradição e questiona os provérbios com ironia e humor. Transportando os provérbios para os seus significados literais, despe-os das suas metáforas originais mas carrega-os de novos significados na série Provérbios Portugueses.